segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ébrio, rua 16.


'Ele caminha vagamente durante o uivo que o vento faz. Assopra a fumaça que o frio lhe causa, na respiração mais frágil possível para um contador de histórias. Ele se esqueceu agora das músicas que escrevia, e sua velha guitarra fora feita enfeite da sua pequena lixeira cor de cobre. Agora não há mais notas nem madrugadas mal dormidas por falta de sentimentos, e nem as mulheres que ele tinha antigamente o queriam mais. Não como aquele podre moribundo abandonado, que canta bêbado pelas ruas em dias de frio. Seria mesmo um homem agora, ou talvez um esvaiador de tempo? Por que o que ele mais queria era isso, sem que tivesse os dedos pra tocar mais uma vez a sua música para a pessoa desmerecida, ou aquele rosto envelhecido do qual não se orgulha mais. Queria agora que um homem encapuzado aparecesse, e o trucidasse pela jugula, em seguida lhe ferisse o peito ate morrer vendo o seu sangue congelar.  Mas ajeitando seu casaco  deixa cair a pequena folha da última música que escrevia, e esgueirando-se na ponta de uma escada na rua 16, canta sua última música, antes de voltar pra casa e se ausentar dessa solidão, embebendo-se num copo de Johnnie Walker.  Ele acorda agora assustado, e ao se olhar no espelho vê as cordas da sua velha guitarra o olhar, enquanto a toma por uma letra formidante, e canta a mesma música que seu sonho lhe dizia.'

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